Lá no cais, na costa portuguesa,
A família treme de medo e de tristeza.
O povo português a maré banha
De lágrimas lusas, por onde os navios
Passarão; este sinal vem ajudar,
Vem sorte, coragem e algo mais dar.
Por entre a multidão de gente entristecida
A tripulação se vai desencontrando
E aqueles homens que são mais fracos
Por entre a confusão, suas lágrimas vão deixando.
Despedem-se da família, dos amigos,
Mas não de casos infiéis e proibidos,
Não de filhos bastardos nem de outros entes
Desconhecidos, fogem da família segunda
Sem dar conhecimento à mulher e seus filhos.
Não pensam, ou não querem pensar,
Que metade de Portugal terão que sustentar.
Entram nos navios, antes de ideias mudar,
Içam as velas, e põe o leme a trabalhar,
Viram costas à costa Lusitana,
Onde cresce o verde musgo nas árvores da floresta.
A bandeira Lusa sente-se desfraldar,
Portugal deixam, pensando em breve voltar.
Comando minha tripulação com medo de falhar,
A bússola aponta apenas um destino incerto,
Sinto-me perder no meio do mar cruel,
Mas não desisto, como quem sua nação não ama,
Ou não seria eu Vasco da Gama.
O tempo parece mais lento,
Ou talvez o Sol e a chuva o façam parecer
Talvez estejamos fora da rota,
Perdemos já navios, será que vão aparecer?
Seguiram outro caminho?
O Gigante Adamastor os devorou?
É incerta a viagem, mas só se pode gabar quem nela se aventurou.
Finalmente, desenhou-se naquele momento,
A figura escura e temida,
Parecendo, por nos ver, ofendida.
Tomo coragem, aproximo-me, valerá a sorte?
Não se sabe, apenas com o tempo se decidirá:
Vida ou Morte.
Sinto a guerra a fervilhar:
-“Ó Vénus, Vénus, onde estás
Que não me vens ajudar,
Ajuda esta tripulação
A vencer, a ganhar!”
Palavras ditas, Desejo realizado,
Vimos mais tarde a sorte do nosso lado,
O Gigante Adamastor, se treta tem,
Que é o muito que pode ter,
Desta vez não poderá vencer.
Segredo tinha, segredo revelou.
Aquela por quem ele suplicava,
A ele se renegou, e ele em nós se vingava,
Sem saber como se manter, sem nunca fraquejar,
Mas fraquejou, e esse momento bastou,
Para a minha tripulação aquele lugar deixar.
Passada a grande prova, sinto-me capaz de tudo,
Sei que o destino é incerto mas não é mudo,
Pois tenho a certeza que nos vai falar,
Irá dizer-nos até onde chegar!
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